domingo, 28 de setembro de 2014

Bastidores - 1ª edição - A Culpa é das Estrelas e Dias Perfeitos.

Seja bem-vindo ao primeiro "Bastidores". Discutiremos sobre duas obras bastante conhecidas. Um deles nacional e o outro do consagrado John Green.


Como mencionado antes, não irei criar sinopses nem uma resenha. Portanto se ainda não conhecem as obras, click nas capas para ter a primeira impressão.

Vale ressaltar que HAVERÁ SPOILERS, quando preciso.


 Muito bem, para aqueles que não fugiram dos spoilers, vamos começar.

Um sintoma é bastante comum quando se torna um escritor. Você começa a analisar as obras minuciosamente, presta mais atenção em detalhes, em descrições que talvez antes fossem "invisíveis".  Temos aqui duas obras bastante distintas, mas que tem algo a nos passar.

Podemos observar em ambas as obras narrativas que prendem, que são corridas, e que são naturais. Apesar das semelhanças, possuem uma diferença: John Green escreveu sua obra em primeira pessoa enquanto que Raphael Montes a esculpiu em terceira. Logo nota-se que a posição do narrador não é desculpa para dar essas três características à obra: dinâmica, naturalidade e atenção do leitor.

Isso se dá, em minha humilde opinião, pelos diálogos sinceros. O leitor realmente acredita no que o personagem está dizendo. Quando se começa a ler um livro, você passa a ver o personagem como um velho amigo, então quando soa aquela frase que ele certamente nunca diria, chega o leitor desperta do livro. É como um garoto contemporâneo em sua fase de adolescência dizer "Esforcei-me muito hoje" quando naturalmente ele diria "Me esforcei bastante", ou algo do gênero.

Claro que tudo há exceções, e esse mesmo personagem fora educado em uma escola diferente dos demais, ou recebera uma cultura diferente dos demais. O que se deve prestar atenção é que uma vez o personagem englobado em um universo deve-se ficar atento que as reações dele estejam de acordo com aquele mundo. Isso não quer dizer que se devem usar frases "clichês", pelo contrário. Os dois autores conseguem criar falas surpreendentes de modo sincero e natural.

As descrições do livro, pela parte do narrador, também é bastante precisa. Recomendo que você, aspirante a escritor ou a best-seller, leia estes livros. Entenderam das narrativas que me refiro quando o fizerem.

Há dois pontos que mais me chamou a atenção nessas obras. 

Primeiro em Dias Perfeitos: parabéns ao autor pela descrição do narrador quanto ao personagem principal, você realmente conseguiu passar a ideia de como um psicopata pensa. Porém, o que realmente foi o auge do livro, a característica que o faz uno dentre outros muitos que lemos é a sua imprevisibilidade. A história corre de forma que dificilmente conseguirá prever. E isso é o que te faz continuar a ler. Eu particularmente não sou fã da história que o autor criou, mas como um bom escritor, guardarei os pontos positivos da obra e aprenderei com eles. Raphael nos ensina a importância de uma obra trama, e ele faz isso nos castigando. Ele faz o que pouco tem coragem de fazer. O personagem nos leva à loucura. É como se sentir acorrentado quando algo horrível acontece diante de nossos olhos e nada podemos fazer. É essa questão que devemos aplicar em nossas tramas. Não que iremos plagiá-lo, mas repensar e nos libertar de certos clichês.



Próximo, A Culpa é das Estrelas: Eu me dei o trabalho de procurar a página, fiz questão de por está citação. Página 174 do livro, tradução para o português por Renata Pettergill:

"-- ... Se ele se casa com a mãe de Anna? Nós estamos falando de um livro, cara criança, não de um cometimento histórico.
-- Tá, mas com certeza você deve ter pensado no que acontece com eles, quer dizer, como personagens, independentemente dos significados metafóricos deles, e tal.
-- Eles são ficcionais -- ele disse, batendo de novo no copo, -- Nada acontece com eles."

A Culpa é das Estrelas tem algo a nos mostrar que me passou despercebido na primeira vez que o li. Na verdade, o detalhe me chamou a atenção quando assisti a sua adaptação para os cinemas. Sinto que a ideia primária de John Green em construir essa história fosse de construir uma trama e que ela fosse bela. Que apesar da situação que os personagens enfrentam, as belezas da juventude não se perdem totalmente, elas se adaptam. Bem, esse poderia ser o objetivo dele até que entregou seu manuscrito para alguém de sua confiança lesse. Essa pessoa provavelmente deve ter chorado bastante com o desfecho da história e de toda a sua beleza. Algo que deve tê-lo feito refletir. Uma reflexão que o escritor fictício da história indaga à personagem. "Por que sofremos pela morte de uma pessoa que sequer existe?"

John Green certamente possui esta resposta, mas nos faz pensar a respeito. Quando escrevemos, parte nossa é posto na obra. Não importa o quanto tentemos esconder esse fato ou nos policiar. Algo de nossa vivência e experiência é inserida, consciente ou não, em nossos livros. "Como um ator/atriz faz para chorar em uma novela?", essa resposta pode ser usada para ambas as perguntas.

Temos sentimentos nessas histórias, pois elas nos recordam de momentos que passamos, de hipóteses que criamos. Se fosse eu no lugar da Hazel, será que suportaria a dor de ver alguém que tanto amo partir daquela forma?

Esse para mim é o que me faz querer ser escritor. Construir histórias humanas que o leitor possa mergulhar e incorporar o personagem. Em que possa se identificar e fazer parte de um mundo o qual pode não existir no concreto, mas que pelo abstrato alcança sentimentos nossos que são igualmente abstratos, mas que provocam reações concretas.

Eis então a grande responsabilidade de ser um escritor. Em nos fazer pensar que sentimentos causar a um leitor. Que desejamos mostrar a eles através de uma obra? Temos a chance de expandir nossos pensamentos e fazer com que inúmeras pessoas desfrutem deste sentimento. É algo fantástico, não?

Faça seus leitores mergulharem em seu mundo, prenda-os até que os surpreenda com uma lição. Esse é o universo de possibilidade que o realismo fictício abriga.

Até breve,

John Erwin


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